Quando o homem chegar a
Marte, como ele vai voltar de lá?
Ninguém
sabe ao certo. As duas agências espaciais que querem levar seres humanos ao
planeta vermelho - a Nasa, dos Estados Unidos, e a ESA, de 17 países europeus -
ainda procuram respostas para os problemas do retorno. Um dos principais é a
enorme duração da viagem. "Uma missão tripulada a Marte deve levar cerca
de mil dias: 350 na ida, duas semanas no planeta e o resto na volta",
afirma o engenheiro holandês Dietrich Vennemann, da ESA.
O que pode acontecer
com os astronautas nesse período é um mistério. Até hoje, o recorde de
permanência no espaço é do cosmonauta russo Sergei Krikalev, que ficou
"apenas" 748 dias em órbita. Para reduzir o rolé, os cientistas
projetam uma velocidade de 43 200 km/h - 35 vezes a velocidade do som e 120
vezes mais rápido que uma bala de fuzil! Essa rapidez pode fazer a nave
explodir no atrito com a atmosfera da Terra. "Será preciso construir uma
nave com materiais que suportem o superaquecimento", diz o engenheiro
americano Steve Wall, da Nasa. A previsão é de que a viagem consuma 120 bilhões
de dólares, mais que o dobro do projeto Apollo, que levou o homem à Lua. Vale a
pena? Os entusiastas não têm dúvidas. "Os robôs só repetem experiências
conhecidas. As descobertas da ciência sempre foram feitas por humanos",
diz o holandês Dietrich, da ESA.
Devagar,
devagarinho
Retorno à Terra levaria cerca de dois anos
Retorno à Terra levaria cerca de dois anos
1. Para
retornar à Terra, o primeiro problema é arranjar combustível para voltar - por
questões de espaço e peso, não dá para acoplar um "supertanque" à
nave. Há duas soluções: mandar o combustível a Marte numa viagem anterior ou
produzir combustível com recursos do planeta vermelho, usando o gás carbônico
da atmosfera numa reação com hidrogênio levado da Terra para criar oxigênio e
metanol
2. Com
combustível, o módulo espacial que desceu ao solo marciano precisará se acoplar
a uma nave que ficará orbitando Marte. O desafio, aqui, é fazer a manobra sem
causar danos à nave. O remédio é simples: basta o piloto do módulo ter perícia.
Esse é tido como o menor dos problemas. O acoplamento é um procedimento-padrão
em viagens espaciais: foi utilizado há quase 40 anos pela missão Apollo, que foi
à Lua
3. O
terceiro obstáculo é a nave conseguir impulso suficiente para voltar. Como a
maior parte da viagem espacial é feita em inércia (com os motores desligados),
a velocidade da nave viria da gravidade de Marte - uma volta na órbita do
planeta aceleraria a nave. Aí é que mora o problema: como Marte só tem 38% da
gravidade da Terra, a velocidade proporcionada seria bem menor. Por isso, o
retorno duraria cerca de duas vezes mais que a ida
4. O
retorno de Marte levaria cerca de dois anos. Essa temporada prolongada no
espaço exige muitos suprimentos, além de gerar níveis de estresse elevados e
problemas físicos imprevisíveis. Uma possível saída é caprichar na preparação
psicológica e física dos astronautas, além de reaproveitar tudo o que for
possível dentro da nave. A água, por exemplo, pode ser reciclada: no limite,
até o xixi pode ser purificado e virar água potável
5. Na
chegada à Terra, um novo desafio: a reentrada. Como a nave vai estar a cerca de
43 mil km/h, a possibilidade de ela se incendiar no atrito com os gases da
atmosfera é enorme. A solução é criar ligas metálicas melhores, capazes de
resistir a temperaturas mais altas. É um desafio e tanto: com os materiais
disponíveis hoje, a Agência Européia (ESA) só garante uma reentrada segura a no
máximo 27 mil km/h
6.
Vencida a reentrada, falta ainda o pouso na Terra. A idéia é que o módulo se
desprenda da nave e caia em algum ponto do oceano, como fizeram os astronautas
que foram à Lua. A Nasa costuma estipular de três a quatro locais de pouso
diferentes. A nave, depois que o módulo se desprender, continua orbitando a
Terra e vira uma espécie de lixo espacial
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